Querido diário,

Vivo me surpreendendo com as pessoas. Hoje eu acordei de mau humor, estava pronta para me vingar de Luciana, aquela chata que ontem no ensaio da festa junina da escola, me chamou de gorducha na frente de todos. Só porque ela foi eleita a mais bonita da sala, pensa que pode humilhar as pessoas. Estava disposta, também, a dar um susto na professora Jaci. Pensei em colocar uma barata de plástico dentro do seu estojo de caneta, bem na hora da aula, para que todos pudessem ouvir os gritos dela. Fui pensando de casa até a escola sobre tudo que havia planejado fazer. Hoje seria o meu dia de vingança, pensei.
Quando cheguei ao portão principal da escola, o porteiro me cumprimentou e eu virei à cara para ele, não queria perder tempo, saí correndo. Quando estava passando pelo corredor, encontrei Gustavo, o garoto mais gato e mais inteligente da escola (ele está na 5ª série A), me esbarrei nele de propósito, deixei o meu material escolar cair, mas imediatamente, Gustavo recolheu tudo do chão, me devolveu e ainda pediu desculpas. Ele olhou para mim e disse que no ensaio da festa de ontem, eu estava linda vestida de caipira, estava uma gatinha.
Fiquei perplexa (aprendi essa palavra “perplexa”, com a diretora). Corri para sala de aula, prestei atenção à revisão de matemática e esqueci de tudo que havia planejado. Quando a aula terminou, fui para o portão de saída esperar pelo meu pai, daí aproveitei e fui procurar seu Gomes, o porteiro, e pedi desculpas pelo que fiz. Seu Gomes é danado, olhou para mim e disse: Filha, o amor transforma as pessoas.
Pois é, ele tem razão. O amor transforma, alegra, deixa você mais bonita...

Fui!
Tchau!!!!
Dai.

Almeida, Verônica Pereira. 06 jan. 2000.